Queridos amigos divers@s!
Aconteceu! Neste dia 26 de julho foi parido o nosso I Encontro Nacional de Grupos Católicos LGBT. Um filho gerado há alguns meses e tão aguardado, nasceu e foi lindo. A ansiedade do preparo do enxoval foi a típica de quem espera alguém que não sabe como vai sair mas que já ama com todo o seu ser. Fruto do amor, esperado com todo o carinho do preparo, naqueles meses que antecediam sua chegada, e enfim… nasceu!!!
Um fato bastante emocionante durante este encontro, foi que em 8 anos da história de existência do grupo, pela primeira vez, tivemos entre nós a presença de uma pessoa representante dos “T”.
M. é travesti, professora, psicóloga, feliz, filha de Deus e tão amada por Ele quanto qualquer outro ser humano, a obra mais perfeita da criação.
Foi emocionante ter a presença de M. em nosso meio porque naquele momento em que ela se pronunciava eu me lembrava do momento em que eu assumi pra mim mesmo que era gay e assumi que eu não poderia mudar isso em mim. Eu acreditava (mesmo antes de conhecer o DC) que se eu era assim então foi Deus que me criou assim, logo eu não poderia mudar em mim os planos de Deus. Me afastei da religião e não de Deus. Pois Deus não me condenava, mas eu acreditava que a religião sim. Fui me afastando dos meus trabalhos pastorais, pois mesmo tendo a certeza que ser gay não era uma escolha e sim a vocação para o qual fui chamado, eu me sentia um hipócrita por estar na igreja e não viver o que as pessoas naquela doutrina me diziam que era correto.
Eu me afastei da minha religião, por achar que ela me condenava. Mas mesmo assim este afastamento não foi total, vez ou outra lá estava eu sentado na missa, saboreando a palavra de Deus, o que não me deixava desanimar e enfraquecer totalmente ao ponto de me entregar. Pra mim era muito cômodo: Sou gay, mas ninguém sabe que sou gay. Se eu não contar ninguém vai me apontar o dedo, julgar ou me limitar nos espaços físicos da igreja.
E digo para vocês, mesmo assim era muito difícil viver assim. Mesmo assim era um processo desgastante estar ali, mesmo sem estar sob os olhares de acusação, mas o sentimento de culpa fazia com que eu achasse que todos estavam me olhando, julgando e condenando.
Agora vamos às analises dos fatos. Se eu, que passava despercebido sob os olhares acusadores dos homens da nossa sociedade que constituem nossa igreja, me sentia tão abandonado naquele meio. Imagina pros nossos irmãos e irmãs da classe T da sigla que nos define. Passava despercebido porque eu não assumi a minha homossexualidade em minha comunidade, então eu era apenas mais um na multidão. Mas Travestis, Transsexuais e Transgêneros, pela coragem que têm de assumir quem realmente são e adotar para si o estilo de vida que os fazem feliz, não conseguem passar despercebidos. Creio eu que um T quando passa por este conflito de poder ou não ser católico e ser quem realmente é, e opta por ser feliz vivendo da forma que foi criado para viver, ao se afastar da Igreja, ten seu afastamento total desta Comunidade. Para evitar sofrer com os olhares acusadores que os cercam. Eles não conseguem ser apenas mais um na multidão.
Receber M. em nosso I Encontro Nacional de Grupos Católicos LGBT foi um momento de muita alegria e ao mesmo tempo de reflexão sobre o tema “Avancemos para águas mais profundas”. A própria M. em seu discurso nos relatava o que não seria novidade para nós, que muitas de suas amigas quando se descobrem e se aceitam deixam de ser católicas por não se sentirem acolhidas por Deus.
Deixam de ser católicas? M. tem grande dificuldade, no começo de sua fala, de se dizer católica. Por que?
M. e toda a comunidade de Travestis, Transsexuais e Transgêneros são criaturas de Deus, criada por Ele única e exclusivamente. Amados por Ele de forma incondicional. Batizados, são chamados e aceitos pela Igreja como filhos de Deus. Ora, não é o batismo um sacramento de caráter indelével na alma? Então nenhum batizado deixa de ser filho de Deus, nem por opção, nem por qualquer tipo de condenação.
Assim como M. tantos outr@s T, estão por aí se dizendo não mais católicos. Assim como ela tantos outr@s precisam ser lembrados do amor incondicional de Deus. Precisamos continuar buscando evangelizar nas periferias da nossa sociedade, onde pessoas estão se esquecendo que Deus é apenas Amor. Precisamos ir em busca dos que estão sendo convencidos, erradamente, de que Deus seleciona seus filhos amados. Precisamos ir em busca dos que ainda precisam saborear Deus, não apenas ouvir falar nEle. Precisamos arriscar viver por Amor.
“O amor vencerá!”
Cabo Frio, 27 de janeiro de 2014.
DG, 28 anos, membro do Diversidade Católica do Rio de Janeiro.
Publicado originalmente em julho de 2014 em nosso blog.