Em princípio sim, mas ninguém está proibido de mudar para melhor, nem as pessoas, nem as instituições. Para o teólogo Juan Masiá, jesuíta radicado na Japão e pesquisador de bioética, é necessário promover a acolhida de pessoas e de uniões homossexuais, bem como de famílias assim constituídas, na vida cotidiana e sacramental das comunidades eclesiais, sem discriminação. Deve-se reconhecer respeitosamente a legislação civil sobre as uniões homossexuais. É necessária uma revisão da interpretação bíblica, moral e teológica sobre a sexualidade à luz das ciências humanas, especialmente sobre a sexualidade pluriforme e as exigências educativas para uma convivência inclusiva. Não se pode afirmar taxativamente a impossibilidade de analogia, mesmo remota, entre uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio. Seria presunçoso possuir o conhecimento certo e definitivo deste suposto desígnio divino.
Masiá afirma que tanto a definição do Concílio Vaticano II de união esponsal como “comunidade íntima de vida e amor” (Gaudium et Spes, n. 48), quanto a imagem bíblica de pessoas que saem de suas respectivas famílias e saem de si para fazer de duas, uma (Gn 2), permanecendo juntas ao longo de um caminho de amor e vida, prestam-se à união esponsal homossexual. A abertura à vida não existe somente ao se gerar uma nova vida como casal formado por homem e mulher, mas também quando um casal homossexual recorre legal e responsavelmente à procriação assistida, à adoção de uma vida já nascida ou quando se dedica de diversas maneiras a contribuir como família à promoção social da vida. As possíveis objeções em determinado caso contra uma adoção, ou contra o uso de procriação medicamente assistida, devem ser as mesmas que em caso semelhante se façam a um casal heterossexual. A reflexão moral teológica sobre a sexualidade deve ser revista levando-se em conta que a orientação sexual não é uma escolha, e nem se pode dizer que seu exercício seja moral ou imoral. Será moral ou imoral pelas mesmas razões da relação heterossexual. Para ambas devem valer as mesmas perguntas éticas: se a relação é razoável, responsável, se a pessoa é honesta consigo mesma e com a outra pessoa, se é amorosa, humanizadora e se ajuda ao justo crescimento pessoal (MASIÁ, Sexualidad pluriforme y pastoral inclusiva, 2015).
Os teólogos norte-americanos Todd Salzman e Michael Lawler dirigem-se aos que apoiam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, como forma de se viver com dignidade, crendo que a negação deste direito é uma discriminação injusta. À medida em que cresce o número de fiéis católicos sentindo-se à vontade com o casamento homossexual, algo já mostrado pelas estatísticas mundiais, este se tornará gradativamente tão aceito quanto a comunhão em certas circunstâncias para pessoas divorciadas e recasadas, sem anulação da união precedente. O desafio para os gays e as lésbicas é demonstrarem que seus matrimônios são tão plenificadores, do ponto de vista humano e cristão, quanto os matrimônios entre heterossexuais. A doutrina católica sobre a autoridade e a inviolabilidade da consciência pessoal, reiterada pelo papa Francisco, aplica-se naturalmente à decisão de gays e lésbicas católicas de se casarem, tanto quanto se aplica a qualquer outra decisão moral (SALZMAN e LAWLER, Sinalização do início de abertura na Igreja). Se a força da família reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar (Amoris Laetitia, n. 53), cabe a eles e elas demonstrarem o quanto suas uniões cumprem esta função.