Hoje

…é isso mesmo que você está lendo! Para quem ainda não sabia, ou preferia falar pelas costas, fazer especulações, boatos e nunca teve a dignidade de me perguntar pessoalmente, eis aí o fato.

Há muitos anos, antes mesmo de ter maturidade suficiente para dar nome àquilo que sentia no meu coração, eu já percebia que algo na minha personalidade me traria muitos problemas. Existia uma estranheza dentro de mim mesmo e que eu já percebia que deveria sufocar, pois a sociedade nunca gostou de quem não se encaixa nas suas fôrmas e normas.

Naquela época, ainda na infância, já ouvia “piadas”, insultos (v**do, b*ch*, b*i*la, etc), comentários maldosos e violências das mais variadas formas. Parecia que, antes mesmo que eu me percebesse, a sociedade já percebia e execrava aquilo que uma criança nem sequer elaborara dentro de si. O que aconteceu? Com o passar dos anos, absorvi tudo isso, fui provando aos poucos desse veneno e me acostumando com isso.

E assim o tempo foi passando, a adolescência foi chegando, e foram anos em que travei uma intensa batalha contra a minha própria natureza. Lágrimas embalavam as minhas preces noturnas de “por que isso está acontecendo comigo?” e eu ainda acreditava que seria possível curar uma personalidade. Nessa época, a única solução que por vezes eu encontrava era dar fim à minha própria vida mas, nas duas ocasiões em que planejei, a minha fraqueza foi mais forte: resisti.

Até que um dia, lá pelos 27 anos, depois de anos de terapia, três intensos episódios de depressão, pânico e ansiedade, idas e vindas a psiquiatras, antidepressivos, benzodiazepínicos e luto sem fim (nos dois sentidos!), consegui fazer as pazes comigo mesmo e finalmente descobri que aquilo que tenho no meu coração não é uma aberração, nem perversão passível de cura, nem uma tentação diabólica ou motivo de vergonha. O que tenho é simplesmente amor. <3

Sabe aquele amor que Cristo prega? Aquele amor incondicional? É esse mesmo! Esse amor SEMPRE vencerá. SEMPRE!! Esse amor é maior que o preconceito e é capaz de dissolver até mesmo as barreiras de gênero. Depois de exatos 33 anos, a via crucis da minha vida finalmente me permitiu ver isso por completo: esse amor me salvou!!!

Mas, me aceitar foi só o começo! A partir de agora não me cabe mais ficar na vida secreta a qual só quem tinha acesso eram os amigos muito próximos, familiares ou pessoas com quem eu me relacionei. Quero sair de todos os armários, incluindo o armário de vidro do “seja você, mas seja discreto!”.

Por isso hoje, publicamente:

– saio do armário como um ato de transgressão política e transcendência cristã;

– saio do armário para fazer militância LGBT fora e dentro da minha Igreja Católica Apostólica Romana (Dê uma olhada em “Rainbow catholics” e “queer theology” no Google… somos muitos!);

– saio do armário para que, quem sabe, outras pessoas tenham a coragem de fazer o mesmo;

– saio do armário para mostrar que existimos: estamos sentados ao seu lado no trabalho, na faculdade, nas igrejas, nos bancos das praças, nos barzinhos… no sofá da sua casa;

– saio do armário, pois estou exausto de dividir o mundo entre “pessoas que sabem X pessoas que não sabem”;

– saio do armário para sambar na cara da sociedade; (não resisti à piadinha, desculpe-me! ahahah)

– saio do armário, pois os meus afetos não cabem na caixinha da heteronormatividade;

– saio do armário, pois sou HOMEM e ADULTO o suficiente para assumir o protagonismo da minha própria vida;

– saio do armário para não mais rastejar na clandestinidade como um “anjo torto que vive nas sombras” (Drummond, 1930);

-saio do armário, pois hoje já me sinto pleno e livre para amar “meninos e meninas” (Russo, 1989);

– saio do armário, pois estou sufocado e não aguento mais a falta de ar;

– saio do armário, pois o armário está cheio de mofo e sou alérgico;

– saio do armário para romper com o silêncio agonizante do meu coração;

– saio do armário para me aliviar do peso de uma cruz que carrego há 33 anos;

– saio do armário como quem recebeu um sacramento e está renovado, limpo e lavado do seu próprio passado;

– saio do armário pois a verdade me libertou;

Saio do armário, tranco por fora e taco-lhe fogo, para nunca mais voltar!

Victor V.