Semana passada comemoramos o Dia do Orgulho LGBT. A data remete ao emblemático 28 de junho de 1969, quando os frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, reagiram às frequentes investidas policiais no local, então um importante reduto da população LGBTI+. Os protestos, que se estenderam por três dias, seriam recordados no ano seguinte por meio da realização da primeira Parada do Orgulho, consagrando esse dia como marco da luta das pessoas LGBTI+ por liberdade de expressão e igualdade de direitos.

Desde os seus primórdios (antes mesmo de 1969), a história da organização do que viria a se constituir como o movimento LGBTI+ vem sendo marcada tanto pela atuação de religiosos consagrados e comunidades de fé no acolhimento e suporte à diversidade sexual e de gênero quanto pela pertença religiosa de pessoas trans, lésbicas, bissexuais e gays nas Igrejas. No próprio episódio de Stonewall, por exemplo, uma das primeiras pessoas a atirar pedras na polícia, deflagrando o levante, foi Sylvia Rivera, uma mulher trans cristã que frequentava e ministrava na Igreja da Comunidade Metropolitana de Nova Iorque – onde hoje há um refeitorio público fundado por ela e um abrigo para pessoas LGBTI+ que leva seu nome: “Sylvia’s Place”. Pouca gente sabe que essa importante personagem da nossa história tinha uma fé. De fato, a memória da experiência religiosa na vida das pessoas LGBTI+ tende a ser apagada em função da crescente vocalidade dos portadores de um discurso que veio se tornando preponderante nas Igrejas cristãs ao longo do tempo, reforçando violências e exclusões vividas por pessoas LGBTI+ nos ambientes eclesiais e contribuindo para a crença de que as identidades LGBTI+ e as identidades religiosas cristãs seriam irreconciliáveis.

É imprescindível resgatar os elementos religiosos na história do movimento LGBTI+ e a presença continuada das pessoas LGBTI+ na história das Igrejas, a fim de desfazer a construção dessa aparente incompatibilidade, que é causa de dor e morte. Não obstante, é igualmente inevitável reconhecer a dificuldade histórica das Igrejas cristãs em acolher e respeitar a diversidade sexual e de gênero – constatação que torna imperativos e urgentes a reflexão e o questionamento, por parte das comunidades cristãs e da hierarquia das Igrejas, acerca dos valores que pautam suas atitudes face à diversidade sexual e de gênero. Estaremos diante de Igrejas mais preocupadas em atuar como “alfândegas morais” e imiscuir-se na regulação da moral sexual, negando a autonomia última de seus membros em seu discernimento ético e diálogo com Deus? Ou de Igrejas “em saída”, que se dirigem às “periferias existenciais” a fim de levar aos excluídos e violentados de nosso tempo a Boa Nova do Amor incondicional do Deus que é Pai e Mãe por suas filhas e filhos e da gratuidade de Sua Salvação para todas e todos?

Neste 28 de junho, nós, da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT, reafirmamos com orgulho e alegria nossa missão de promover e difundir a Boa Nova de Jesus Cristo e o projeto plenamente inclusivo do Reino de Deus, partilhando a experiência do Amor, da Liberdade, da Justiça e da Vida em abundância com todas as pessoas que são excluídas da Igreja e/ou da sociedade em virtude de sua identidade de gênero e/ou orientação sexual e contribuindo com nossos dons para a jornada de construção do Reino e para a luta pelo reconhecimento e pela celebração plena da diversidade de expressões, identidades, gêneros, sexualidades, sempre em uma perspectiva inclusiva, solidária e não-violenta.

Iluminadas e iluminados pela fé em Jesus Cristo e na certeza de que o Espírito Santo nos inspira e fortalece em nossa caminhada, seguimos, com a proteção de Maria, mãe da Igreja, em comunhão com nossas irmãs e irmãos em Cristo.

Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT