Autor: Equipe Diversidade Católica

Depoimento: “O Deus de amor não condena nenhum de seus filhos”

Nasci católica, numa cultura católica, onde o universo todo também era católico. Fui apresentada, muito cedo, pelo meu avô materno – obviamente católico – a um Deus que não pune, que não frita gente num inferno escaldante, que não se vinga ou sente raiva. Esse Deus do vô João nos protege ao mesmo tempo que nos permite escolher a vida que quisermos ter, com todas as consequências. Ele não é responsável pelo mal mas não nos nega a experiência do mal. Ele não nos nega experiência alguma. E é essa a liberdade linda e divina Dele. Aos 21 anos, já bem crescida e sabendo bem escolher os frutos do Bem e do Mal, me dei conta de que sou óbvia e intrinsecamente gay. Sempre fui; não virei gay. Antes eu tivesse passado por baixo do arco-íris; teria explicado muita coisa no começo. Mas eu entrei no arco-íris e, como não poderia deixar de ser, com o gênio que tenho, aceitei viver inteiramente o que sou com as consequências que isso pudesse ter. Passei a ser católica e gay, na mesma intensidade, de forma tão primitivamente enraizada na minha personalidade que nunca escolhi ser ou deixar de ser nenhuma delas. Apenas sou. Graças ao meu vô João, meu Deus de amor foi maior que o inferno que o homem teima em pintar em nome de Deus. Minha criação foi forte...

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Depoimento: “Saí duplamente do armário: como gay católico e como católico gay”

Vivia uma adolescência conturbada, explodindo questionamentos e angustia existencial. Até que conheci algumas pessoas da Igreja, e fui magicamente resgatado de uma solidão que acreditava ser eterna. Com eles eu não precisava parecer mais forte, mais seguro. Mesmo a minha falta de jeito para eles era um charme. Até então acreditava que a adolescência era o pior tempo da vida e tudo o que queria era crescer e deixar esse tempo para trás.Com eles passei a gostar de ser jovem, de estar no aqui e agora, de ser eu mesmo – ainda que soubesse bem pouco sobre mim mesmo até então. Formamos um grupo jovem chamado PANE (Para Amar Nós Existimos), no dia 06 de agosto de 1978. Toda esta felicidade durou oito meses, e logo meu pai se transferiu de volta ao Rio de Janeiro com todos os seis filhos. Passei a freqüentar as missas da Igreja da Ressurreição no Posto 6. Achei que era para mim um chamado convocar jovens a partir dos 16 anos para ensinarem o catecismo, preparando crianças para a primeira comunhão. Atendi imediatamente e nos 4 anos seguintes (cada turminha durava 2 anos) tive um compromisso certo todos os sábados pela manhã. Daí passei a dar palestras nos encontros da Igreja e de outras paróquias também. Fiz cursos de formação de lideranças e assumi uma coordenação na Pastoral da Juventude, na Arquidiocese. Em...

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Depoimento: “Aquele que busca a salvação não deve julgar”

Minha identidade homossexual é uma mera condição que não está interligada ao meu caráter. Contraditório seria se eu fosse um assassino psicopata, um criminoso, um corrupto “E” católico… Enfim, se eu fizesse algo de podre, que atrasa o desenvolvimento da sociedade… Minha sexualidade não interfere e não prejudica a minha vida e nem a vida dos outros, portanto, não vejo motivos para que Deus possa me julgar por algo tão simples e tão pessoal. Deus nos julga por nossos atos prejudiciais, por aquilo que atrapalha e/ou interfere ao conjunto de pessoas que vivem em nosso âmbito. Ser gay não interfere na vida de outra pessoa. Meus valores definem o meu caráter e serei julgado por ele. As pessoas precisam perder a mania feia de linkar a identidade sexual de um indivíduo às capacidades religiosas, intelectuais e físicas dele, afinal, Deus nos criou afim de que fôssemos felizes. Aquele que ignora sua identidade de boa vontade para seguir a Deus, amém. Deus conhece seu coração e sabe se essa boa vontade o torna realmente completo e feliz. Mas Deus também conhece o coração daquele que não abandona sua identidade e vive completo e feliz, buscando estar ao lado do Pai em sua condição. Qual criador abandona sua criatura, seja qual for as características dela? O que Deus nos propõe é que busquemos a felicidade junto a Ele, Nele e por...

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Depoimento: “A Igreja somos nós”

Lembro-me bem dos passeios de carro, com meus pais, pela orla do Rio. Penso que, a partir dos 10 anos, passei a perceber que não olhava as mulheres de biquíni, mas para os homens de sunga. Toda a minha formação ocorreu num colégio religioso que venerava a figura feminina, embora fosse somente para meninos. Minha experiência religiosa, em todo este período, foi muito forte e determinante na minha vida. Nosso principal orientador era um religioso sério, firme e carismático. O afeto entre os colegas era natural e foram formados laços de amizade fundamentais para meu crescimento. Este conjunto foi importante para me ajudar a viver a vida com alegria, mas serviu, também, como cortina de fumaça para aceitar minha sexualidade. Reconheço, hoje, que a figura da mulher considerada como ser inatingível, aliado a diversos complexos de adolescência e a homossexualidade rejeitada como um mundo desconhecido; levaram-me, pouco a pouco, a uma postura assexuada. Não havia procura de prazer nem com mulheres ou homens fisicamente, nem sequer pela masturbação. Vivia com minhas amizades e temia qualquer outro tipo de relacionamento afetivo. Minha religiosidade estava presente no grupo e no meu silêncio. Meus pais cuidavam de mim generosamente, e não abordavam qualquer questão relacionada à minha sexualidade. Casei virgem, de mulher e homem, aos 24 anos. Admirava minha esposa. Ficamos casados quase sete anos e tivemos um filho. Durante este tempo...

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Depoimento: “O que é afinal viver segundo a vontade de Deus?”

Muitos “fundamentalistas cristãos” ao acessar esse blog podem pensar que é um absurdo ser gay e ser católico. Não me espanto mais em encontrar com esse tipo de pensamento, às vezes violento, quando vivemos em um mundo muito longe da proposta de amor e de fraternidade anunciada por Jesus Cristo, há mais de 2000 anos. Sou oriundo de família católica, tenho até um tio padre missionário. Mas minha vivência religiosa só se concretizou aos 17 anos, quando me preparava para receber o sacramento da Crisma. Quando cheguei a essa nova fase da minha vida eu já tinha conhecimento que eu era, como os rotulistas gostam de proclamar, “diferente”. Passei minha adolescência sempre reparando mais no torso dos meninos do que no desenvolvimento dos seios das meninas. E jamais me senti culpado por isso, porque o que eu sentia era natural, espontâneo. Apesar de viver numa casa em que era “influenciado” pela heterossexualidade dos meus pais, eu me descobria homossexual. Mas e a Igreja? O que pensa? E eis que vivenciei, a partir dos meus 20 anos, um período de grande questionamento. Tinha aprendido que Deus é amoroso, é misericordioso, é paz. E eu me pegava refletindo se esse mesmo Deus me condenaria por uma questão que era natural em mim, porém condenada pelo discurso da Igreja. No auge dessa crise existencial, já certamente desesperado com uma “pseudo culpa” que...

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