Autor: Equipe Diversidade Católica

1. Se a Igreja Católica condena a prática da homossexualidade, como é possível uma pessoa cristã católica ser LGBT?

Em primeiro lugar, a Igreja ensina que nenhum ser humano é um mero homo ou heterossexual. Ele é acima de tudo criatura de Deus e destinatário de Sua graça, que o torna filho Seu e herdeiro da vida eterna (Homosexualitatis problema, 1986, n.16). Como filho de Deus, na busca da verdade e do bem, convém considerar o que diz o papa Francisco. O conhecimento da verdade é progressivo. A compreensão do homem muda com o tempo, e sua consciência se aprofunda. Recorde-se o tempo em que a escravatura era aceita e a pena de morte era admitida sem nenhum problema. Os exegetas e os teólogos, como também as outras ciências e a sua evolução, ajudam a Igreja a amadurecer o próprio juízo. Como consequência, há normas e preceitos eclesiais secundários que em outros tempos foram eficazes, mas que hoje perderam valor ou significado. Uma visão da doutrina da Igreja como um bloco monolítico a ser defendido sem matizes é errada (Entrevista, 19/8/2013). Portanto, o fiel cristão deve procurar ser adulto na fé, atento às contribuições das ciências, que hoje não mais consideram a homossexualidade como doença, e ajudar a Igreja a amadurecer seu juízo. Nenhum fiel deve se encapsular em posturas intransigentes avessas à reflexão crítica e ao...

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2. Por que razão a Igreja se opõe à prática da homossexualidade?

Conforme o Catecismo da Igreja Católica, tal oposição apoia-se na Sagrada Escritura, que apresenta os atos de homossexualidade como depravações graves (Gn 19,1-29; Rm 1,24-27; 1 Co 6, 10; 1 Tm 1,10), levando a tradição a declará-los como intrinsecamente desordenados. Estes atos são supostamente contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida e não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados (n. 3527). Diante disto, deve-se considerar o que diz o Concílio Vaticano II (1962-1965) sobre o correto entendimento da Sagrada Escritura. O leitor deve buscar o sentido que os autores sagrados em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, pretenderam exprimir servindo-se dos gêneros literários então usados. Devem-se levar em conta as maneiras próprias de sentir, dizer ou narrar em uso no tempo deles, como também os modos que se empregavam frequentemente nas relações entre os homens daquela época (Dei Verbum, n. 12). Os textos bíblicos tradicionalmente citados contra a prática da homossexualidade, se forem devidamente analisados, não mais fundamental esta posição. O Concílio também diz que, na atividade pastoral da Igreja, conheçam-se e apliquem-se não apenas os princípios teológicos, mas também os dados das ciências profanas, principalmente da psicologia e da sociologia, para que os fiéis sejam conduzidos a uma vida de fé mais pura e adulta (Gaudium et Spes, n. 62)....

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3. A pessoa católica LGBT que mantenha um relacionamento está em pecado?

O Concílio Vaticano II afirma que há uma ordem ou hierarquia de verdades no ensinamento da Igreja, segundo o seu nexo com o fundamento da fé cristã. Alguns conteúdos são mais importantes por estarem estreitamente ligados a este fundamento. Outros, por sua vez, são menos importantes por estarem estão menos ligados a ele (Unitatis Redintegratio, n.11). Para o papa Francisco, esta ordem é válida tanto para os dogmas de fé como para os demais ensinamentos da Igreja, incluindo a sua mensagem moral. Nesta, há uma hierarquia de virtudes e ações. A misericórdia é a maior das virtudes. As obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito. Os preceitos dados por Cristo e pelos Apóstolos ao povo de Deus são pouquíssimos. E os preceitos adicionados posteriormente pela Igreja devem ser exigidos com moderação, para não tornar pesada a vida aos fiéis e nem transformar a religião numa escravidão (Evangelii Gaudium, n. 36-37 e 43). O fiel deve ter em mente sobretudo viver o amor ao próximo e a misericórdia, e que sua conduta seja tradução destes valores. Além disso, a Igreja preza a liberdade de consciência, que é o direito de a pessoa agir segundo a norma reta da sua consciência, e o dever de não agir contra ela. Nela está o “sacrário da pessoa”, onde Deus está presente e se manifesta....

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4. O Antigo Testamento condena a homossexualidade?

Naquele tempo não havia o termo homossexualidade, mas pode-se falar de atração e relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Não se pode negligenciar o que a Bíblia diz sobre isto, nem os desdobramentos históricos que daí se seguiram. Mas é preciso se tratar deste assunto com a devida profundidade, indo além da leitura ao pé da letra. O livro sagrado dos cristãos não é manual de receita de cozinha ou manual de instrução de eletrodoméstico, com resposta categórica para todas as perguntas. Quem usá-la deste modo, próprio do fundamentalismo, não encontrará o Deus vivo, mas o ídolo da burrice. A Revelação divina testemunhada na Bíblia é expressa de diversos modos. Segundo o Concílio Vaticano II, o leitor deve buscar o sentido que os autores sagrados em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, pretenderam exprimir servindo-se dos gêneros literários então usados. Devem-se levar em conta as maneiras próprias de sentir, dizer ou narrar em uso no tempo deles, como também os modos que se empregavam frequentemente nas relações entre os homens daquela época (Dei Verbum, n. 12). No judaísmo antigo, acreditava-se que o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se unirem e procriarem. Supõe-se uma heterossexualidade universal, expressa no imperativo “crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,28). Isto foi escrito no tempo do exílio judaico na Babilônia. Para o povo...

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5. Por que São Paulo, na Carta aos Romanos, condena as relações entre pessoas do mesmo sexo?

Cabe primeiro ressaltar que no tempo deste apóstolo não havia o termo homossexualidade, mas se conhecia a atração e as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. A Carta aos Romanos afirma que quem ama o próximo cumpriu a lei, pois os mandamentos se resumem em amar ao próximo como a si mesmo (Rm 13, 8-10). Este é o espírito dos mandamentos e o critério de sua interpretação. Mas ao refutar o politeísmo, culto a diversos deuses, o apóstolo Paulo o associa ao homoerotismo (Rm 1, 18-32). Os pagãos são acusados de não adorar o Deus único, mas as criaturas, e de permitir essa prática sexual vista como abominação pelos judeus. Tal comportamento é considerado castigo divino por causa de uma prática religiosa errada: “Por tudo isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas”. Outros escritos paulinos têm a mesma posição, em que prováveis referências ao homoerotismo estão ligadas à idolatria e à irreligião (1Cor 6, 9-11; 1Tim 1, 8-11). No contexto judaico-cristão da Antiguidade, este argumento era compreensível. Não havia o conceito de “orientação sexual”, estrutura profundamente enraizada na pessoa, com relativa estabilidade, levando-o à atração pelo sexo oposto ou pelo mesmo sexo. A “orientação sexual” nada tem a ver com a crença em um ou em vários deuses, ou com qualquer prática religiosa. Mas, no contexto da Antiguidade, a Igreja herdou a visão antropológica judaica da heterossexualidade universal...

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