Autor: Equipe Diversidade Católica

6. Como uma família católica deve encarar o fato de um de seus membros ser LGBT?

O papa Francisco ensina que a Igreja deve conformar o seu comportamento ao do Senhor Jesus que, num amor sem fronteiras, Se ofereceu por todas as pessoas sem exceção. Às famílias que têm filhos homossexuais, ele recorda que que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando-se evitar qualquer sinal de discriminação injusta e particularmente toda a forma de agressão e violência. Deve-se assegurar um respeitoso acompanhamento, para que quantos manifestam a homossexualidade possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua vida (Amoris Laetitia, n. 250). Há uma bela carta pastoral dos bispos norte-americanos aos pais dos homossexuais, escrita em 1997, com um título oportuno e profético: “Sempre Nossos Filhos” (“Always our children”). Ela é inspiradora também em outros países com realidade semelhante. Os bispos afirmam que Deus não ama menos uma pessoa por ela ser gay ou lésbica. A AIDS pode não ser castigo divino. Deus é muito mais poderoso, mais compassivo e, se for preciso, com mais capacidade de perdoar do que qualquer pessoa neste mundo. Os pais são exortados a amarem a si mesmos e a não se culparem pela orientação sexual de seus filhos, nem por suas escolhas. Os pais não são obrigados a encaminhar seus filhos a terapias de reversão para torná-los heterossexuais. Os pais são encorajados, sim, a...

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7. A Igreja se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à adoção de crianças por casais LGBT?

Em princípio sim, mas ninguém está proibido de mudar para melhor, nem as pessoas, nem as instituições. Para o teólogo Juan Masiá, jesuíta radicado na Japão e pesquisador de bioética, é necessário promover a acolhida de pessoas e de uniões homossexuais, bem como de famílias assim constituídas, na vida cotidiana e sacramental das comunidades eclesiais, sem discriminação. Deve-se reconhecer respeitosamente a legislação civil sobre as uniões homossexuais. É necessária uma revisão da interpretação bíblica, moral e teológica sobre a sexualidade à luz das ciências humanas, especialmente sobre a sexualidade pluriforme e as exigências educativas para uma convivência inclusiva. Não se pode afirmar taxativamente a impossibilidade de analogia, mesmo remota, entre uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio. Seria presunçoso possuir o conhecimento certo e definitivo deste suposto desígnio divino. Masiá afirma que tanto a definição do Concílio Vaticano II de união esponsal como “comunidade íntima de vida e amor” (Gaudium et Spes, n. 48), quanto a imagem bíblica de pessoas que saem de suas respectivas famílias e saem de si para fazer de duas, uma (Gn 2), permanecendo juntas ao longo de um caminho de amor e vida, prestam-se à união esponsal homossexual. A abertura à vida não existe somente ao se gerar uma nova vida como casal formado por homem e mulher, mas também quando um casal homossexual recorre legal e responsavelmente à procriação assistida,...

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8. O discurso da Igreja, quando é contrário às pessoas LGBT, favorece atos homofóbicos violentos?

O discurso religioso às vezes engrossa o coro de vozes homofóbicas, mesmo que se oponha explicitamente à violência. Na Igreja Católica, a doutrina contrária à homoafetividade foi abertamente contestada pelo clero de Chicago, em 2003 (ver aqui), após um pronunciamento da alta hierarquia eclesiástica contrário às uniões homossexuais. Em nome da dignidade da pessoa humana e do respeito que lhe é devido, aqueles sacerdotes criticaram o tom de tamanha violência e abuso contra gays e lésbicas, que são filhos e filhas da Igreja. Ninguém mais do que eles e elas têm sido massacrados por uma linguagem tão vil, que os demoniza. Termos como atos “intrinsecamente desordenados”, uniões “nocivas” e “graves depravações”, são um bombardeio que em muitos arrasa o respeito próprio e a auto-estima. Em lugar dessa linguagem asquerosa e tóxica, eles propõem uma abertura de diálogo que inclua a experiência vivida dos fiéis. Os sacerdotes reconhecem a bênção divina na vida de inúmeros homossexuais em seus relacionamentos. E defendem que suas vivências sejam ouvidas com respeito. Nem sempre se pode impedir que pessoas e instituições expressem convicções homofóbicas, mas se pode enfrentar estas convicções com a luz da ciência, que não considera mais a homossexualidade como doença; com a luz da fé no Deus bom, anunciado por Jesus, e com espírito profético. Jesus ensina que a lei foi feita para o homem, e não o homem para a...

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9. É correto grupos cristãos se oporem à promoção da igualdade de gênero e de orientação sexual?

Os planos governamentais de educação básica no Brasil, em sua primeira versão, propunham a promoção da igualdade de “gênero e orientação sexual”. Esta igualdade é defendida pelos que querem ampliar os direitos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais); e recusada por outros, entre os quais estão segmentos religiosos cristãos alegando imposição de ideologia de gênero. De fato, o papa Francisco alertou contra formas de uma ideologia chamada gender (gênero), que negariam a diferença e a reciprocidade natural entre homem e mulher, preveriam uma sociedade sem diferenças de sexo, e promoveriam uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. A identidade humana ficaria à mercê de uma opção individualista. O sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender) podem se distinguir, mas não se separar (Amoris Laetitia, n. 56). Este alerta, porém, não significa necessariamente uma condenação dos estudos de gênero e de tudo o que lhes diz respeito. Tais estudos são bastante heterogêneos e não há uma teoria unificadora e abrangente. Em geral, evidenciam o papel da cultura e das estruturas sociais na configuração e na relação entre os gêneros, questionam a subalternidade de um gênero a outro, e, nas últimas décadas, contemplam a realidade de pessoas LGBT. Há pesquisas de neurociência concluindo que o sexo biológico não se reduz à genitália e à anatomia. É o cérebro...

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10. A homossexualidade é uma doença? Ela tem cura?

Durante muito tempo, a homossexualidade como a conhecemos hoje não existiu. Explica-se: homens e mulheres tinham relações com pessoas do mesmo sexo, mas não eram classificadas como homossexuais. Os atos homossexuais poderiam ser considerados, no máximo, atos pecaminosos, mas isto não era entendido como uma orientação, um estado permanente da pessoa. Foi no século XIX que surgiu a palavra homossexualidade. Um médico cunhou o termo para defender a existência de indivíduos cuja orientação sexual se dava por pessoas do mesmo sexo de maneira permanente. Logo esta primeira intenção positiva de cunhar um termo que corresponde a vivências e desejos de uma parcela da população, passou a ser utilizada de maneira depreciativa. Homossexualismo tornou-se um diagnóstico que apontava o portador de um desvio, uma doença. Inúmeras foram as tentativas de descobrir a causa da “doença do homossexualismo”. Várias pesquisas a respeito da composição, das dimensões dos órgãos dos homossexuais procuravam entender o que provocaria tal distúrbio. Vários tratamentos foram sugeridos. Chegou-se a transplantar testículos de animais machos para “fabricar” hormônio masculino, já que, na época, o homossexual era visto quase que exclusivamente como efeminado. Além da área médica, muita literatura criminalística afirmava que os homossexuais tinham uma tendência maior para a malandragem, para o crime. Esta visão tétrica só começou a ser transformada quando, por meio do movimento gay, os próprios homossexuais passaram a falar sobre si mesmos, a produzir...

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